O povo lusitano, antes de massacrado pela crise e deprimido pela instabilidade politica e social, enfardava fortemente a mesa do tubo catódico, deliciando-se com o mais opíparo dos repastos: a vida de Toy. De carros a mulheres, passando por choco frito ou calcas aderentes, o potente baladeiro ensinou-nos muito na vida. Com ele rimos, chorámos, compreendemos a necessidade de chamar um António, de afagar cuidadosamente os nossos sensíveis Olhos D'Água, ou até mesmo de chutar um assunto incomodativo para canto, pois "tu e que querias festa".
Toy, fã de longa data do "Cromos da Bola" |
Quem também gostava de chutar para canto era "o outro Toy" (ou para pontapé de baliza e pela linha lateral, enrolado e sem forca).
Alheio a toda esta obsessão para com o Tom Jones português, o então futebolista do Salgueiros caminhava solitário pela sombra - homónimo, mas infeliz. "Ninguém me ligava puto. Os portugueses passavam a vida com o Toy na boca, mas eu era tratado aos pontapés. Desde cedo percebi que estava destinado a uma vida de renegado, de pária…confesso que o meu coração brilhava sempre que ouvia o meu nome na TV…para cair depois numa longa e agoniante caminhada pelas profundezas infernais da depressão quando me apercebia que era do broeiro de Setúbal que falavam."
Porém, alturas houve em que o bombardeiro cabo-verdiano esteve também ele nas bocas do Mundo: "Foi bonito ter sido comparado ao Eusébio. Jogar no Benfica foi um sonho realizado. Mas quando via craques como Mawete Junior* ou Pepa a fazer malabarismos e a comer tremoço com casca nos treinos, cedo percebi que aquele mundo não era o meu. Eles eram melhores Eusébios do que eu. O Pepa tinha problemas nos joelhos e tudo...eu sabia que não conseguia competir. Já que não conseguia ser um bom Eusébio, tentei ser o melhor Toy possível. Mas nem isso consegui. Tudo por causa daquele broeiro."
Já no Salgueiros (01/02), Toy tentou recuperar a chama perdida com a confiança desfeita pelo peso da comparação a Pantera Negra:
"Marquei 5 golos em 33 jogos em Vidal Pinheiro, um excelente pecúlio para um ponta-de-lança. Mas o que me orgulhou mais, foi ter marcado mais do que o Mawete e o Pepa juntos. Ate porque o Mawete marcou zero e o Pepa nenhum. Foi uma época em cheio. Finalmente era eu o ultimo dos Eusébios. Orgulhoso, de pé."
"Olá, eu sou o Toy. Não, o outro." |
Porem, a nuvem negra em forma de cançoneta popular pairava incólume sobre a sua cabeça. "Esta época de sonho, a dos 5 golos, calhou ao mesmo tempo da estreia do programa do outro gajo. 'Na Casa do Toy', chamava-se assim. No inicio pensei que falavam de mim na rua, nos cafés…mas depois comecei a aperceber-me de cenas estranhas. Eu nunca conduzi com os joelhos ou apalpei as mamas da minha mulher em almoços de família. Esta gente estará maluca, pensava eu. Ignomínia! Depois a dura realidade atingiu-me com violência. Vi um azeiteiro com suíças fininhas a arrotar em frente a esposa e a comer que nem um porco, e pensei cá para mim: aqui há gato. Mas não era gato, era Toy. Fiquei pior que estragado. Não consegui ser um bom Eusébio, nem sequer um bom Toy."
A medida que o ex-torneiro mecânico de Setúbal ia tornando Portugal num povo estupidamente apaixonado, o cabo-verdiano ia enchendo seus olhos d'água. E a vida nunca mais seria a mesma.
"Senti na pele aquilo que o Marco Paulo do Estoril e do Estrela**já dantes sentira. Não e fácil. 'Aguenta-te com esta', pensei eu…mas depois vi que o outro Toy ja se tinha antecipado a essa também. Toda a minha vida e um triste LP de insucessos e baladas lamechas.***"
- *actual craque do Dingli Swallows, da II Divisão maltesa (a serio)
- ** o único jogador a fazer 15 posições diferentes em campo, mais 2 do que Carlos Costa.
- *** NOTA DA REDACÇÃO : e o Toy antecipou-se a essa também.
2 comentários:
Obrigado por resistirem a intitular esta narrativa "Toy Story".
não foi fácil!ou então "esTOY desmarcado".
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